Caixeiras do Divino
Cultura tradicional

Caixeiras do Divino

As Caixeiras do Divino são responsáveis por conduzir todos os rituais da festa do Divino Espírito Santo no Maranhão. Realizada nas casas de culto e terreiros de umbanda, também chamadas Tambor de Mina, a festa começou no Brasil no início do século XVII, com a vinda dos colonos portugueses para o Brasil. No século XIX, essa tradição já fazia parte da cultura popular da região.

O que une as várias comunidades no Maranhão na Festa do Espírito Santo é o papel fundamental e protagonista das Caixeiras do Divino. Trata-se de um conjunto de mulheres que tocam caixa (instrumento de percussão) e cantam, comandando os rituais da festa. São guardiãs da tradição e se espalham pelo estado do Maranhão, como em Alcântara, São Luís, Rio Grande, Pedrinhas, Rosário, Providência, Comunidade Quilombola de Santa Rosa dos Pretos, entre outras localidades.


Com tambores de pele de couro de cabra, as caixeiras participam de todas as etapas da festa, com seu batuque e suas cantorias. Ainda nessa região, todo o ritual gira em torno de um grupo de crianças, denominado Império. Essa crianças são vestidas com trajes nobres, sendo tratadas com todas as regalias durante a celebração. São determinados o Imperador e a Imperatriz e, logo abaixo, o Mordomo e Mordoma-régia. Ao final da festa do Divino, Imperador e Imperatriz passam suas vestes e seus cargos aos Mordomos, garantindo, assim, a continuidade da tradição. Nos salões das casas de culto são feitas decorações que representam um grande palácio, onde, durante toda a festa, se desenrolam as várias cerimônias que, juntas, constituem um complexo ritual de louvor.

Uma das explicações para a festa do Divino ser celebrada também nos terreiros deve-se ao fato dos povos de origem africana terem incorporado algumas tradições europeias em busca de uma maior aceitação dentro da sociedade.

A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO
CASA FANTI ASHANTI

A Casa Fanti Ashanti, fundada em 1958, é um templo do Candomblé e do Tambor de Mina, cujo nome refere-se aos povos africanos da atual República do Gana, antiga Costa do Ouro, colonizada pelos ingleses. A Casa era comandada por Pai Euclides Menezes até o seu falecimento, em 2015, quando também foi interrompido o ciclo da Festa do Divino, a seu pedido. Ela estava vinculada à Festa de Oxalá, no mês de julho, desde 1960. 

As Caixeiras do Divino Espírito Santo da Casa Fanti Ashanti fazem parte da Família Menezes, que vem, ao longo dos anos, preservando e divulgando muitas manifestações religiosas e populares da cultura maranhense.


É representada pelas irmãs Anunciação (Dindinha), Maria José (Zezé), Maria das Graças (Gracinha) e por seus filhos, Henrique, Bartira, Ney, Téo e Rômulo Menezes. Eles são os responsáveis pelo desenvolvimento e promoção de muitas brincadeiras e manifestações populares, como Ladainha, Reis do Oriente, Quadrilha do Oeste, Presépio Vivo, Baile de Natal, Tambor de Crioula, Cacuriá, Caroço, Bumba-meu-boi, Queima de Palhinha, Comédias, Bois de cofo de Farinha d’agua, Festa do Divino Espirito Santo, Bloco de Sujo, Lelê, Baile de Caixa, Bambaê ou Carimbó de Caixa, entre outras.

Hoje, Graça, Henrique, Bartira e Téo Menezes vivem em São Paulo. Zezé e Dindinha seguem no Maranhão. Duas ou três vezes ao ano, a família toda se encontra em São Paulo, de abril a maio, e em São Luís, entre junho e julho e em setembro. A família é grande parceira do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e está presente em muitas das atividades realizadas no evento e também pela Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge.

A partir do ano 2000, depois de oficinas de caixa do Divino realizadas na Associação Cultural Cachuêra, surgiu a ideia de ser feita uma demonstração da Festa do Divino em São Paulo. Ela acontece até hoje, anualmente.

ENCONTRO DE CULTURAS

Sobre a experiência das Caixeiras do Divino no XI Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em 2011, pelo repórter do Encontro Vitor Santana:

A noite da última quarta feira, dia 27 de julho de 2011, foi marcado por um belo encontro de uma cultura semelhante, mas que habita países diferentes. As caixeiras, uma argentina e duas brasileiras abriram as atrações no palco em frente à Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge. Mariana Carrizo, uma coplera argentina, nascida em Salta, destacou-se desde criança pelos poemas rimados que cantava, acompanhada da caixa. “Uma copla é uma poesia de quatro versos que se rima e, nesses quatro versos, tem uma mensagem que é cantada em diferentes lugares, com diferentes melhorias. E as melodias vão mudando de acordo com o sentimento de cada pessoa”, explicou a artista argentina.

“Eu nasci num lugar onde, cotidianamente, se expressa a vida nas coplas. É um canto mais íntimo, que se canta para si mesmo”, comentou a caixeira argentina. As Caixeiras do Divino também se apresentaram com seus cantos sobre variados assuntos, muitas vezes feitos na hora. Um dos momentos mais marcantes da apresentação foi quando as artistas maranhenses começaram a cantar versos improvisados em homenagem à companheira argentina.

As semelhanças entre as tradições eram enormes, apesar das diferenças no ritmo e estilo dos cantos, além das formas dos instrumentos. A caixa argentina é mais larga, porém mais estreita que as caixas maranhenses. As baquetas também são diferentes, sendo as argentinas maiores do que as brasileiras.

O ENCONTRO

Diferentemente do que o público está acostumado a ver em outras manifestações culturais, no Maranhão quem bate caixa são as mulheres. Na Argentina também. Com essa cultura em comum, as Caixeiras do Divino e a coplera Mariana Carrizo se apresentaram no palco, entoando seus versos, compartilhando essa tradição. “Encontrar com elas é como encontrar com minhas avós e foi um carinho muito grande. Creio que me encontrar com as Caixeiras foi muito bom, fico muito feliz. É como eu disse no palco, é muito emocionante e inexplicável, muito bonito”, confessou a artista.


A similaridade entre as duas culturas foi uma coisa que encantou as caixeiras do maranhão e a coplera argentina. “Se fala sobre tudo nas coplas. Se fala sobre o cotidiano, da vida em geral, do amor a terra, a tudo, ao homem, ao sol (...). Existem coplas que são antiquíssimas, que são ensinadas durante toda a vida, e também coplas que são de improviso”, disse Mariana Carrizo. “Nós temos alguns versos prontos, que já cantamos várias vezes, mas muita coisa a gente faz na hora, sobre um monte de coisas”, complementou Maria da Paz, uma das Caixeiras do Divino.

Por último, um dos fatores que mais impôs dificuldade na convivência dessas artistas foi a língua. Porém, segundo a coplera, a música consegue ultrapassar esse entrave: ”Acredito que a América Latina é uma só coluna e estamos identificados com muitas coisas que são muito parecidas. E nas músicas, mesmo que a língua seja diferente, o espírito dos latinos é esse, muito alegre, brincalhão”

   

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