Comunidade do Sítio Histórico Kalunga
Cultura tradicional

Comunidade do Sítio Histórico Kalunga

Na língua banto, de origem africana, Kalunga significa lugar sagrado, de proteção. No sentido dado pelos moradores do Sítio Histórico, significa "lugar sagrado que não pode pertencer a uma só pessoa ou família", ou "lugar onde nunca seca, arável, sendo bom para as horas de dificuldade". A terra começou a ser habitada em meados do século XVIII, quando africanos escravizados fugiram em busca de liberdade.

Era o período de colonização da região de Goiás em busca do ouro e da garimpagem, em que, além das populações nativas e indígenas, africanos foram escravizados como mão de obra barata. Em busca de libertação, estes escravos fugiram e criaram seu quilombo em uma terra de difícil acesso, com serras, vãos e rios; distante dos parentes e amigos que ficaram para trás. Os Kalungas representam um povo que se escondeu e luta, há mais de 300 anos, por sua comunidade, pela liberdade e sobrevivência. 

O quilombo Kalunga ocupa 237 mil hectares e abriga mais de 4.500 pessoas. São quatro núcleos principais de população: Contenda, Vão de Almas, Vão do Moleque e Ribeirão de Bois, que ficam nos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, na Chapada dos Veadeiros. Esse núcleos são formados por pequenos povoados como Engenho, Diadema, Riachão, Ema, entre outros. No entanto, mesmo com esta divisão, é difícil visualizar o habitat da população.

As festas populares dos Kalunga são sua marca registrada. A forte religiosidade do povo é demonstrada por meio dos festejos em homenagem aos santos de cada época. As festas são a caracterização genuína da cultura popular, em que o sagrado e o profano se misturam. Rezas e a dança da Sussa, o tradicional Levantamento do mastro do Divino e a mesa cheia de comidas e bebidas para a Festa do Império Kalunga, com a coroação do imperador e da rainha.

Mais do que comemoração religiosa, as festas têm um papel social. É nessas festas que parentes se reencontram, crianças são batizadas, são realizados casamentos, reivindicações são ouvidas por representantes políticos, etc. Quando reunidos, a nação Kalunga mostra ainda mais sua humildade, sua alegria e o valor de se preservar as tradições. Sempre dispostos para o trabalho e para o festejo, os Kalunga não veêm tempo ruim. Um exemplo da brasilidade mais genuína, que mais do que qualquer outra necessidade, requer respeito.


Sussa

Dança tradicional Kalunga, a Sussa nascida de tradições africanas, reflete toda a alegria desse povo. Com um ritmo marcado pelo som da viola, do pandeiro, da sanfona e da caixa (espécie de tambor), é uma tradição que envolve toda a comunidade através da música e da dança, caracterizada por giros em que as mulheres equilibram garrafas de cachaça sobre a cabeça.

A Sussa faz referência à dança sagrada de pagamento de promessas, geralmente feita em pedido de prosperidade da lavoura. As festas Kalunga, representadas pelos tambores da Sussa, apresentam ritos complexos, com simbolismos peculiares, como o reinado do Imperador, a coroa, a corte em procissão, o mastro, as bandeiras, as espadas, o terço com as ladainhas das rezadeiras, os foguetes e alguns motivos folclórico-emblemáticos. Em um sentido mais amplo ou uma releitura, as festas dos Kalunga correspondem à folia de santos católicos.


Boilé

O Bolé é uma dança voltada para as crianças da Comunidade do Sítio Histórico Kalunga. Dançada em pares, a manifestação chegou a se perder da tradição Kalunga. Zezinho, da Comunidade do Vão das Almas, aprendeu a dança com os avós e iniciou o trabalho de resgate cultural junto às crianças. Embalados pelo pandeiro, sanfona e caixa, o grupo faz uma grande roda e uma dança de ritmo acelerado, com muitos giros.  

LEIA MAIS
Reportagens publicadas pela equipe de comunicação do Encontro de Culturas sobre a Comunidade Kalunga:

1 - POESIA KALUNGA

2 - KALUNGA: A FOLIA DE NOSSA SENHORA DAS NEVES

   

Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge. Direitos reservados.