A Dança do Manzuá é uma das tradições da comunidade remanescente quilombola de Retiro dos Bois, povoado que pertence a Januária, mas é mais próximo das comunidades do entorno da Chapada Gaúcha.
Tradicionalmente mulheres dançam com uma trouxa na cabeça, o manzuá. Conta-se que quando uma pessoa queria sair de casa despercebida não podia se embelezar muito e, por isso, usava o manzuá para esconder a roupa de festa e se trocar depois de sair de casa.
A Dança do Manzuá é uma roda de homens e mulheres dançando e cantando os versos que perguntam:
“Mas cadê o Manzuá?”
Enquanto uma das pessoas da roda dança, carregando uma trouxa na cabeça, outra fica no centro da roda, pedindo para a música parar. Neste momento, ela aborda a pessoa que carrega a trouxa, estabelecendo um diálogo divertido e provocativo, que termina sempre com o convite para dançar o Manzuá.
Conta-se que essa dança surgiu nas viagens que a comunidade fazia para a roça ou para as festas, carregando suas trouxas na cabeça e brincando no caminho. A mudança nos modos de vida abandonou essa prática e, já quase no esquecimento, foi retomada por uma ação da prefeitura local e pelo Encontro de Cultura Tradicional do Grande Sertão Veredas.
Hoje, a dança é apresentada em vários eventos de cultura da região e nas festas religiosas da comunidade.
A participação no Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em 2008, foi a primeira ocasião em que o grupo tradicional saiu de Minas Gerais.
Levina Vieira, na época "manzuazeira" há dez anos, disse batalhar para não deixar a tradição desaparecer: "Não posso deixar uma manifestação que tem 150 anos acabar. O meu filho de 10 anos já dança o manzuá".
Satisfeita com a participação no Encontro de Culturas, Dona Lourença diz que vai levar para sua casa as amizades e experiências que viveu na Vila de São Jorge. "Pra mim eu tô voando. É a coisa mais linda da minha vida! Eu achei olho que me enxergou que eu achei que não enxergava antes", poetiza ela.
Seu Domingos Soares, antigo morador do povoado de São Jorge, já falecido, assistiu a apresentação com de gravador na mão. Ele disse: "Todo ano trago um gravador para o Encontro, porque gosto de escutar a Folia em casa. Gravo até os passarinhos cantando. Assim vou registrando a história da Chapada".
REFERÊNCIAS
MEYER, Gustavo. A vida na cidade e a invenção da “cultura”: imagens de desenvolvimento a partir da “roça”. Etnográfica. Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, v. 23, n. 2), p. 359-390, 2019. https://journals.openedition.org/etnografica/6810