Dona Gracinha
Cultura tradicional

Dona Gracinha

Dona Gracinha é uma senhora boa de prosa, como dizem: simples até mandar parar. De vida tranquila e voz calma, Gracinha se mostra disponível para contar suas histórias de vida e sanfona a todos que demonstram interesse. “Eu toco sanfona desde os sete anos de idade, comecei a tocar por causa do meu tio, que me deu uma gaita de boca, depois uma sanfona. A vida toda eu olhava para os sanfoneiros e queria aprender a tocar igual a eles”, relembrou.


A sanfoneira participou de muitas edições do Encontro de Culturas, embalando o forró na Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge. Entre os ensinamentos que aprendeu com seu tio, Dona Gracinha destaca: “sanfoneiro bom é sanfoneiro animado, tem que tocar pra valer, o povo tem que dançar."


Foi agarrada à sua sanfona que Dona Gracinha subiu ao palco principal do Encontro de Culturas para “arrebentar a boca do balão”, como costuma dizer. Esbanjando vivacidade, tocou de frevo a forró, passando por chorinho, valsa, tango, xote e até o Hino Nacional. “Aqui em São Jorge o povo gosta muito de xote, é só tocar e esperar o sol raiar”, se diverte.

"Essa senhora tem muita energia, é emocionante a maneira como ela toca”, disse a estudante Raquel Ferreira. “O que mais me impressiona é o fato de ela não parar um minuto. Toca uma seguida da outra, assim dançamos sem ver o tempo passar”.

Em 2010, a sanfoneira participou do Encontro de Culturas lançando seu primeiro CD, gravado por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Dona Gracinha da Sanfona vem animando arrasta-pés e se apresentando em bares e casas de espetáculo do Piauí, Distrito Federal, Goiás e Maranhão. Ela nunca perde o embalo, nem mesmo quando perdeu parte da perna direita - consequência de um acidente automobilístico. Em seus shows, os ritmos vão do forró, frevo e baião até o chorinho, o tango e a valsa. Sua banda é composta por três músicos, Chiquinho (triângulo), Gabriel Lourenço (voz e violao) e Flávio Leão (zabumba).

HISTÓRIA

A vida de Maria Vieira, mais conhecida como Dona Gracinha ou Gracinha da Sanfona, está muito relacionada com o instrumento que mais gosta. Nascida no Piauí, e de família muito humilde, Gracinha acabou sendo criada por seus tios. “Minha mãe era muito pobre, quando eu nasci fui pra casa da minha tia com alguns meses de vida, aí eles me criaram”, conta a sanfoneira. 

Aos 7 anos de idade, Gracinha descobriu a sanfona, os pandeiros feitos com lata de goiabada e, consequentemente, sua razão de viver. “Depois que toquei em Juazeiro, nunca mais parei”. Segundo ela, tudo começou quando ganhou uma gaita e uma sanfona de seu tio e, a partir daí, seu objetivo foi tocar como os músicos de sua cidade. “No começo, eu ia tocar de jumento ou cavalo, naquele tempo era muito difícil ter carro pra andar, aí a gente ia do jeito que dava, sabe?” Quando perguntada sobre a eficácia do meio de transporte, Gracinha responde rapidamente: “É até bom né? Tem uns jumentos lerdos, mas acaba que dá certo. Eu ia e voltava das festas em que tocava sempre assim”, sorriu.

Depois que Gracinha perdeu os tios, passou a morar com sua irmã. “Meu tio morreu depois de comer uma panelada; passou mal. Minha tia do mesmo jeito, só que foi com carne de porco”, explicou. Na casa em que vive atualmente, em Brasília, a sanfoneira mora com seu sobrinho. “Ele é muito bom na gaita, guitarra, baixo e zabumba, qualquer dia desses vou montar uma banda com ele também”, planeja.

Entre os ensinamentos que aprendeu com seu tio, Dona Gracinha destaca: “sanfoneiro bom é sanfoneiro animado, tem que tocar pra valer, o povo tem que dançar. Tem sanfoneiro que toca parecendo que está pedindo para que o mundo leve, num desânimo...”.

   

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