O Grupo de Folclore Serra da Mesa reúne uma confraria de artistas e profissionais populares, cadastrados pelo Memorial Serra da Mesa. Foliões das mais diversas festas populares, poetas, artesãos, ciganos, remanescentes quilombolas, benzedeiras, contadores de causo e dançadores.
O Memorial Serra da Mesa foi inaugurado em 2008, como um espaço onde os artistas da região da Serra da Mesa pudessem ser cadastrados e reconhecidos como membros atuantes da cultura popular brasileira. Segundo Sinvaline Pinheiro, que é Coordenadora do Memorial e colaboradora do Encontro de Culturas, o Grupo de Folclore Serra da Mesa surgiu antes da instituição. “Assim que eu cheguei em Uruaçu, juntei os foliões e logo conheci o Vivi com o Chimite, uma dança tradicional das folias que havia desaparecido. A gente apresentava nas casas ou em eventos. Quando foi criado, o Memorial Serra da Mesa se tornou o ponto de apoio para esses encontros”, explicou.
Entre as manifestações culturais apresentadas pelo grupo estão a Folia do Divino, a Dança do Passarinho e o Chimite. Este último é dançado ao ritmo da sanfona - em Uruaçu, especialmente, é o violeiro Vivi que brilha com sua sanfona pé-de-bode, preservada há mais de 50 anos.
A instituição desenvolve também um trabalho direcionado às crianças. Dança, música, literatura e até mesmo a arte de tocar berrante são ensinadas aos jovens da cidade de Uruaçu. Todo esse trabalho é apresentado à população durante os festivais promovidos no município. São cinco eventos no ano: Encontro de Culturas, Festival Caipira, Semana do Folclore, Feira do Cerrado e Festa Junina. O grupo participou do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros em 2011 e 2013.
ENCONTRO DE CULTURAS
A segunda apresentação da noite de quarta-feira, 24 de julho de 2013, empolgou o público e levantou a poeira da vila de São Jorge. Os responsáveis por toda a animação foram os integrantes do Grupo de Folclore Serra da Mesa, do Memorial Serra da Mesa, da cidade de Uruaçu. Além dos foliões do Divino Espírito Santo, o grupo reúne o contador de causos Pedro Serra da Mesa, o sanfoneiro tocador de Chimite Vivi e a benzedeira Izabel.
Mesmo chegando ao palco por volta das nove da noite, a apresentação do Grupo começou com um cortejo durante a tarde que seguiu até a Casa de Cultura do Cavaleiro de São Jorge, onde se encontraram com a bezendeira Izabel que já havia passado o dia na Casa de Cultura benzendo visitantes e a comunidade.
Dona Izabel iniciou a apresentação do Grupo no palco com algumas palavras. Em seguida, foi a vez de Pedro da Serra da Mesa assumir as atenções com seu humor e seus causos que arrancavam gargalhadas da plateia. Logo, os foliões, vestidos de vermelho e branco, foram ocupando o palco, empunhando suas bandeiras e puxando seus cantos e danças característicos ao som da viola, sanfona, pandeiro e triângulo.
O ápice da conquista do público foi ao apresentar o Chimite, dançado sob o ritmo da sanfona. “É uma dança moderna que tem um trocado de passos, tipo um forró. Dança simples, mas muito bonita”, explicou Zaldiné, integrante do folia do Divino Espírito Santo.
O público não conseguiu ficar parado, a maioria das pessoas já tinha aprendido a coreografia e dançava acompanhando os artistas populares. Todos ficaram aquecidos para na hora da catira executarem as pisadas típicas da manifestação. Camila Leite, do Rio Grande Sul, gostou muito do grupo, porque a lembrou das manifestações populares do sul. Na hora de ir embora, o Grupo de Folclore Serra da Mesa não pode deixar de repetir o Chimite para satisfazer o público.
A repórter Giovanna Beltrão cobriu o XI Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em 2011, e fez o seguinte texto com entrevistas ao site de nossa agência de notícias:
O Grupo de Folclore Serra da Mesa subiu ao palco no dia 26 de julho de 2011, com emoção e preocupação. O motivo do nervosismo foi a saúde do Mestre Geraldo, o líder dos foliões, que passou mal durante a passagem de som da apresentação. Os artistas resolveram fazer o show sem o Mestre, era uma maneira de homenageá-lo e pedir a Deus que intercedesse por sua saúde.
Se apresentaram sem perder a animação. O esforço dos artistas foi reconhecido com devida reciprocidade pelo público, que aplaudiu cada manifestação mostrada. Durante a apresentação, José Américo mostrou suas habilidades com a sanfona e com a dança. Quando perguntado sobre como aprendeu a tocar, o sanfoneiro foi sucinto. “Desde pequeninho, rapaz. Tava com uma média de uns oito anos. Eu tinha vocação, né? Aí fui tentando... Comecei a tocar numa pé-de-bode pequeninha e fui esticando, até chegar na sanfona maior. Aprendi a tocar sozinho, só com a ajuda da mente, nunca fui em aula. Vai da vontade da pessoa, né?”, vangloriou-se.
Depois da Folia, o contador de causos Pedro Serra da Mesa foi quem deu segmento ao show. Pedro Silva Rocha é um homem humilde e trabalhador. Nascido na Fazenda Rio do Peixe, no município de Niquelândia, hoje mora em Uruaçu. Conheceu Sinvaline Pinheiro em uma situação inusitada e, por ela, foi convidado a participar do Memorial Serra da Mesa, contando suas histórias e causos.
Em forma de causo, contou como começou a contar histórias:
"Eu comecei a contar histórias,
Dona Sinvaline, eu conheci ela pegando carona,
Lá pra beira do lago,
Eu tinha aprontado lá e resolvi sair de casa,
Bati com mão, ela parou,
E ficou até ‘meia’ cismada,
Eu de bermuda toda regaçada, camisa aberta,
Aqueles boné de pano virado pra trás,
Ela pensou: “Será que esse ‘homi’ é maluco?”,
Aí me deu carona, nós foi conversando,
Ela me conheceu, me contratou,
Me conheceu pegando carona nas estrada,
Hoje eu trabalho lá junto com eles lá,
Fazendo limpeza lá,
É eu, esse aqui e um outro lá"
Para Seu Valdemir José Gonçalves, o Seu Vivi, de 58 anos (na época, em 2011), o melhor da apresentação foi a resposta do público. “A apresentação foi muito boa, a plateia é daquelas que gosta de aplaudir, gosta de som ao vivo. Tem lugar que você chega e o povo só fica olhando e nem aplaudir não aplaude, e o povo aqui aplaudiu. Foi muito bonita a apresentação”, disse emocionado. Seu Vivi é responsável por resgatar o Chimite. O sanfoneiro não sabe como o ritmo surgiu, mas lembra do que aprendeu com o pai.
“Pra te falar a verdade, eu aprendi a tocar o Chimite quando eu tinha 14 anos de idade. Eu não sei como surgiu o Chimite, eu aprendi a tocar com meu pai. Ele mexia com os dedos, tipo dançando [fazendo os movimentos da dança com os dedos] e eu aprendi. Com a boca ele fazia o ritmo. E assim eu aprendi tocar”, recordou.
Seu Vivi toca o ritmo em uma sanfona pé-de-bode, a única que teve na vida. “Ganhei essa sanfona de um moço, que eu trabalhei na chácara dele por dois anos. Eu num ganhei um salário dele, ele pediu pra eu olhar a chácara pra ele, e quando eu falei pra ele que eu ia sair, ele comprou uma ‘trainha’ que eu tinha, eu peguei uma casinha dele em troca e ele falou comigo ‘você caça uma sanfona pra você, que eu vou comprar pra você. Ele comprou essa sanfona e me deu”, contou, emocionado.